O que é um mito?
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma
coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do
fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos
instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A palavra mito vem do grego, e deriva de dois
verbos: do verbo (contar, narrar, falar alguma coisa para os outros) e do verbo
(conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um
discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a
narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público,
baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa
autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está
narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.
Acredita-se que o poeta é um escolhido dos
deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a
origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos
ouvintes. Sua palavra - o mito - é sagrada porque vem de uma revelação divina.
O mito é, pois, incontestável e inquestionável.
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que
nele existe de três principais maneiras:
1.
Das relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas
relações geram os demais deuses: os titãs, os heróis, os humanos, os metais, as
plantas, os animais, as qualidades, como quente-frio, seco-úmido, claro escuro,
bom-mau, justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc..
Um exemplo de narrativa mítica.
"Quando nasceu
Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava também o
filho de Prudência, Recurso. Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar
do festim a Pobreza, e ficou na porta. Ora, Recurso, embriagado com o néctar -
pois o vinho ainda não havia - penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu.
Pobreza então, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Recurso,
deita-se ao seu lado e pronto concebe o Amor. Eis por que ficou companheiro e
servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalício, ao mesmo tempo que por
natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela. E por ser filho o Amor
de Recurso e de Pobreza foi esta a condição em que ele ficou. Primeiramente ele
é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina,
mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se
ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre
convivendo com a precisão. Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é
belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer
maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a
vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua natureza nem
mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive, quando enriquece; ora morre e de
novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa,
de modo que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como também está no meio
da sabedoria e da ignorância. Eis com efeito o que se dá".
2.
Rivalidade ou uma aliança
entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo.
3.
Recompensas ou os castigos que os deuses dão a quem lhes
obedece ou a quem lhes desobedece, respectivamente.
Os deuses fizeram uma mulher encantadora,
| Mito de Pandora |
Pandora, a quem foi entregue uma caixa que
conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta. Pandora foi
enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as
maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes,
guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males do mundo.
Vemos, portanto, que o mito narra a origem das
coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças
sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens.
A filosofia, ao nascer, é uma cosmologia, uma
explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das
transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma
transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos?
Diferenças entre filosofia e mito.
1.
O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no
passado imemorial, longínquo e fabuloso. A filosofia, ao contrário, preocupa-se
em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro, as coisas são
como são.
2.
O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou
alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a
filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos e
causas naturais e impessoais. O mito narra a origem dos seres celestes (os
astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos. A filosofia explica
o surgimento desses seres por composição, combinação e separação dos quatro
elementos - úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar.
3.
O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o
incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica,
como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade
religiosa do narrador. A filosofia, ao contrário, não admite contradições,
fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente,
lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do
filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.
Bibliografia
CHAUI, M.
Filosofia, Série Novo Ensino Médio, Volume Único, São Paulo, Editora Ática,
2004, pp. 23-5.
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